A procura por moradias disparou na pandemia, com mais pessoas a querer construir uma casa à medida, longe dos grandes centros urbanos. Este novo paradigma alimentou o segmento premium, gerando “dinamismo no mercado”, tal como explica João de Sousa Rodolfo, arquiteto e CEO da Traçado Regulador, em entrevista ao idealista/news. O contexto pandémico, diz ainda, tornou-nos “mais conscientes dos espaços” e deu impulso à "troca de apartamentos no interior da cidade por moradias na periferia". Mas, afinal, quanto custa uma “casa de sonho”? E o que é que os investidores mais valorizam nestes imóveis?
A Traçado Regulador projeta moradias premium, isto é, “casas de sonho” com muitos metros quadrados (m2), grandes jardins e piscinas de horizonte infinito. O atelier tem mais de um milhão de seguidores no Facebook e a pandemia acabou por trazer-lhe mais popularidade (e negócio) dentro e fora de portas.
De acordo com João de Sousa Rodolfo, as moradias acabam por ser “projetos que geram grande empatia nas pessoas”. “Toda a gente sonha com uma moradia, mesmo que não a venha a construir de imediato”, refere.
Atualmente, o atelier tem mais de 80 projetos em curso. Os investidores são maioritariamente portugueses, apesar dos clientes estrangeiros terem um peso cada vez maior no negócio. Procuram, sobretudo, “casas em lotes desafogados, com amplas áreas e com espaços com novas funcionalidades – escritório, ginásio, sala de cinema, adega ou wellness center”, e além do jardim, piscina ou design minimalista, valorizam zonas de estar e lazer exteriores. No interior, por sua vez, é importante “uma espacialidade rica e com forte relação com o exterior”.
Os preços podem começar nos 450.000 euros e chegar a vários milhões. Tudo depende, explica, do “tamanho do sonho” de cada um.
A Traçado Regulador destaca-se por projetar casas de sonho. Qual o retrato do mercado imobiliário de luxo em Portugal?
A primeira dificuldade que temos é a de reconhecer onde começa o luxo. Diria que existem 3 fatores que o caracterizam – localização, área e qualidade. Estas são características que são universais, mas cujas fonteiras são difíceis de definir. Trata-se sobretudo de um qualificação relativa – a palavra “luxo” não qualifica a mesma coisa para pessoas diferentes.
Considerando simplesmente como “luxo” as habitações de maior valor de mercado, podemos dizer que se trata de um setor em crescimento acentuado, sendo determinante a procura por estrangeiros.
O segmento residencial premium continua “vivo” e mostrou-se resiliente à pandemia. Porquê?
A pandemia gerou, por um lado, uma crise “com fim à vista”. Não houve pânico no mercado, que conduzisse a vendas a baixo preço. Por outro lado, a pandemia fez com que o teletrabalho, cuja possibilidade era meramente teórica, se tornasse uma realidade não só possível, como muitas vezes vantajosa.
Por outro lado, ainda, os momentos de confinamento tornaram-nos mais conscientes do espaço que quotidianamente habitamos, e da necessidade da relação com um exterior natural. Isto determinou em muitos casos um movimento de troca de apartamentos no interior da cidade por moradias na periferia, gerando algum dinamismo no mercado.
Qual o perfil de investidores? Mais portugueses ou estrangeiros?
Podemos falar apenas da pequena amostra que representam os clientes da Traçado Regulador, neste universo – maioritariamente portugueses, sendo que os clientes estrangeiros têm representado uma cada vez maior percentagem.
Que tipo de casas procuram?
Os nossos clientes procuram casas em lotes desafogados, com amplas áreas e com espaços com novas funcionalidades – escritório, ginásio, sala de cinema, adega ou wellness center.
Além do jardim, piscina ou design minimalista, por exemplo, que outras características são valorizadas nos imóveis?
No exterior, além da piscina, as zonas de estar e lazer exteriores, no interior, uma espacialidade rica e com forte relação com o exterior.
A relação com a “casa” mudou com a pandemia? Em que medida?
A casa deixou de ser uma questão meramente funcional no imaginário das pessoas, isto é, o local em que se come, se dorme e, por vezes, se socializa.
A maior permanência no interior da casa, deu lugar à compreensão e valorização da relação psicológica com o espaço. A maioria das casas revelou a sua inadequação a esta nova forma de habitar.
Quando é que começaram a projetar moradias e dedicar-se mais intensamente a este segmento?
As moradias são os “projetos malditos dos arquitetos” – dão muito trabalho e, pela sua dimensão, representam um retorno muito limitado. A Traçado Regulador, tal como muitos gabinetes, preteria estes projetos em favor de outros de maior dimensão.
Com a crise que se viveu em 2011, ficamos praticamente sem projetos. Em 2015 foi-nos proposto o projeto de uma grande moradia (1.350 m2), que aceitámos. Publicamos o projeto nas redes sociais e foi um sucesso. Vieram mais projetos de moradias e publicámos sucessivamente.
São projetos que geram grande empatia nas pessoas – toda a gente sonha com uma moradia, mesmo que não a venha a construir de imediato. As pessoas comentam e partilham e num ápice eramos um atelier conhecido, não só em Portugal, mas também no estrangeiro.
Quantos projetos têm em curso? E onde?
Neste momento temos ativos cerca de 80 processos distribuídos pelas várias fases: estudo prévio, anteprojeto, projeto de execução e obra.
Há cada vez mais pessoas à procura de oportunidades nas periferias – também por causa da pandemia. Quais são as zonas mais atrativas?
As zonas mais atrativas são claramente as periferias próximas dos grandes centros urbanos. Mas também já se verifica alguma procura no interior.
Como é que os preços evoluíram nesses locais?
Naturalmente a procura gera o aumento dos preços. Existem zonas nas quais os preços dos lotes duplicaram em 3 anos.
A Traçado Regulador tem mais de um milhão de seguidores no Facebook - atraídos, também, pelo mundo das casas de sonho. Quanto custa uma casa deste tipo?
É uma pergunta de resposta difícil. Temos casas relativamente pequenas e com valores de construção a rondar os 450.000 euros e temos casas cujo valor pode ultrapassar a dezenas de milhões de euros. Depende do tamanho do sonho!
As redes sociais são uma boa ferramenta de divulgação? Já ajudaram a fazer negócio?
As redes sociais são uma ótima maneira de divulgar o nosso trabalho. Por outro lado, esta visibilidade requer da nossa parte um cuidado redobrado em não cometer qualquer falha, isto é, uma enorme preocupação com a qualidade do projeto, pois qualquer feedback negativo tem um impacto muito grande.
As redes sociais trazem muito trabalho, sendo a par da partilha da experiência dos nossos clientes, a principal fonte de angariação de novos projetos. Todos os dias respondemos a mais de 30 contactos provenientes de Facebook, Instagram e Linkedin.
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